Pergunta

Prezado Nelson,

Ainda estou fazendo o trabalho sobre a historia do automóvel, e gostaria de fazer maisuma pergunta, contando com sua ótima colaboração,,,,

Gostaria de saber, do ponto de vista da história doproduto – automóvel, algum lançamento que não deu certo em número de vendas, se possível algum exemplo…..

Você tem alguma observação sobre o Bora?? quero ainda salientar, que sua participação tem sido de grande importância p/ o nosso trabalho, e ofereço assim que terminarmos, enviar-lhe uma cópia do mesmo!!!!

Até mais … Sempre grata,

Andressa
 

Resposta

Prezada Andressa,

Vejamos se conseguimos atender as suas expectativas.

Carros que não deram certo:

Quando ocorreu a liberação das importações no governo Collor, a partir de 91, começaram a chegar os veículos importados, numa relação de custo / benefício muito boa. Naquela época a taxa cambial era muito favorável e os impostos de importação chegaram a valer em torno de 20%. Só como exemplo nos dias de hoje essa taxação é igual a 70% de II.

Vários modelos da industria local acabaram sofrendo esta competitividade.

A VW tinha dois produtos. O Logus que era um produto um pouco mais velho e o Pointer um produto mais recente. Ambos não venderam dentro do esperado e logo saíram de linha.

Em 1987 a Ford e a VW se juntaram formando a Empresa Autolatina. Supostamente aquela união que traria mais competitividade ao mercado, mais produtos, mais volume de vendas, menos custos nunca chegou a acontecer. Nitidamente GM e Fiat se aproveitaram deste momento ruim dos concorrentes e aumentaram suas participações de mercado.

Nessa época foi lançando o VW Apollo e o Ford Verona. Eram veículos da mesma plataforma e com acabamentos distintos. Nunca chegaram a vender bem no mercado. A linha Santana e Santana Quantum também fez uma junção com o Versallis e Royale (Station Wagon da família Versallis). Também não venderam na proporção esperada e o Versallis ainda tinha um pior resultado.

Parte deste cenário até eu percebia. O Santana Quantum teve um enorme sucesso frente a Station Wagon da GM (Caravan), pois tinha o atributo das 4 portas, fundamental numa perua de apelo familiar.

Quando a Autolatina lançou a Versallis Royale a mesma se diferenciava da Santana Quantum pelo fato de ter apenas duas portas. Não vendeu nada, pois o mercado já comprava Station Wagons maiores na configuração de 4 portas.

Hoje em dia muito se comenta que ambas as empresas VW e Ford pagam a conta desta joint venture mal sucedida. A VW já deteve 60% do market share e nos últimos dois anos perdeu primeira posição em volumes de vendas para a Fiat.

Em 2003 a mesma aparece nos parciais até o quarto mês na terceira posição, perdendo o seu lugar para a GM.

A Ford é a segunda companhia do mundo em volumes de vendas. Em 2001 chegou quase a ser ultrapassada pela Renault em nosso mercado local. Felizmente mudanças ocorreram e a mesma ainda se mantem na quarta posição, mas aumentou sensivelmente o seu market share. Ainda assim a estratégia futura é de se posicionar em volumes de vendas como ocorre em outros mercados, ou seja, pretende estar na segunda posição e porque não na primeira ???

VW Bora:

Nos EUA este mesmo veículo é comercializada com grande sucesso, com o nome de Jetta. Na verdade estamos falando do mesmo veículo, pois o modelo é fabricado no México sendo exportado aos dois países.

Por que a referência EUA é importante. Inicialmente representa o maior mercado automotivo do mundo. Enquanto vendemos algo próximo de 1,5 milhões de unidades ano, nos EUA este número é multiplicado por 10, ou seja, são mais de 16 milhões de vendas novos ao ano.

O Bora ou Jetta americano já é vendido naquele mercado há bastante tempo. Estamos falando de uma segunda ou terceira geração do veículo e o americano gosta muito do produto alemão, principalmente quando estamos nos referindo o conceito de Germany Car. É evidente que a VW se aproveita do sucesso absoluto e indiscutível de fabricantes alemães de carros de luxo e top de linha (Audi, BMW e Mercedes-Benz).

Todos os produtos VW vendidos nos EUA conseguem bons volumes de vendas e muito sucesso nos segmentos em que atuam. O novo Fusca (New Beetle) superou todas as expectativas após seu lançamento e por mais de 3 anos foi a grande sensação de mercado. Depois vieram modelos mais novos e mais diferentes que acabaram tirando este atrativo do modelo VW. O PT Cruiser foi o seu sucessor nesta receita de sucesso de carros fora do comum e agora a bola da vez é o mini Rover, aquele que o Mr. Bean utilizada em seus filmes, quando a marca ainda pertencia ao Grupo Britânico Rover. Hoje quem fabrica o Mini Rover é a BMW. A mesma colhe os frutos desta receita de sucesso mundial. No primeiro ano de vida foram vendidos mais de 120 mil unidades, numa previsão inicial de 80 mil unidades.

Bora no Brasil:

Porque não decolou em volumes de vendas. Não sei explicar. O carro possui um design maravilhoso. Segue uma tendência e seu irmão maior, Linha Passat sendo este eleito o carro do ano no segmento Sedans Familiar Importado nos EUA, mas inda assim o brasileiro não comprou o modelo ou não absorveu o mesmo.

Como o mesmo é importado teve que ser trazido com motorização 2.0 de 116CV. Com certeza os concorrentes desta categoria de segmento oferecem melhores e maiores potencias. Só como exemplo o Fiat Marea um carro deste segmento oferece um motor 2.4 de 160CV. A diferença é bem grande.

A VW possui um motor 1.8 de 150CV Turbo que seria mais apropriado para o modelo. Entretanto a opção deste encareceria demais o mesmo colocando fora de sua faixa de mercado. Nos EUA este motor Turbo é o carro chefe de vendas VW para o Jetta e o Passat. O motor de 6 cilindros também tem muita procura e aceitação nos EUA.

Atualmente com o dólar mais desfavorável a situação Bora piorou ainda mais. Não é apenas o Bora que sofre com esta variação cambial, mas todos os veículos importados. Um modelo Bora é oferecido por mais de R$ 65 mil, enquanto que carros concorrentes valem algo próximo dos R$ 50 mil. A diferença de valores, acrescido ainda que se trata de um veículo importado, acaba diminuindo potencias compradores para o modelo. Para quem gosta de veículo sinto muito que um produto de fama internacional não repita aqui o mesmo sucesso de outros mercados.

Infelizmente a relação custo / benefício é o fator principal na escolha de qualquer veículo e apesar do benefício do modelo, seu custo foge um pouco os parâmetros de segmento em que está presente. Talvez com este recente acordo bilateral entre Brasil e México possa reverter este situação, ou seja, os veículos importados daquele País passam a ter uma menor alíquota de importação. Desconheço os detalhes deste acordo comercial e a partir de quando estas novas alíquotas de importação e exportação seriam aplicáveis. Com certeza aquela montadora que tiver operação fabril no México e Brasil deverá colher maiores resultados no futuro.

O mercado mexicano é o oposto do Brasileiro. Nós consumimos 75% de nossa produção e exportamos 25%. O México exporta 75% de sua produção e consome 25%. Com a criação do Nafta (comércio entre EUA / México e Canadá) todas as industrias automobilísticas migraram para o México em busca de uma mão de obra mais barata.

Infelizmente o carro produzido naquele País não atende as necessidades do povo local, que precisa de um veículo mais em conta, mas popular, menos recheados de acessórios, veículo do segmento de entrada. É neste cenário que todas as nossas montadoras locais passaram a exportar os seus produtos (VW Pólo, Fiat Palio, GM Corsa, Ford Fiesta, entre outros).

A produção automotiva atual no México, nitidamente tem como destino final os EUA e o Canadá. Nesta falta de carros pequenos é que estamos conseguindo um bom resultado, em volumes de vendas de carros exportados. Temos uma capacidade de produção atual de 3.2 milhões de unidades / ano. Em 1997 vendemos 2 milhões de unidades. Tudo indica que este ano não vamos ultrapassar a casa de 1.5 milhões de unidades locais. A exportação tem sido a única saída para as montadoras tentar reduzir um pouco estas perdas, frente a uma ociosidade de 40% do parque fabril. Já imaginou o que isto representa ???

Como agora estamos produzindo carros mundiais (Golf, Novo Polo, novo Fiesta, Peugeot 206, GM Meriva, Citroen C3, entre outros) este cenário de exportação passa a ser uma alternativa. Certa vez em um, etc, etc, etc…….

Atenciosamente,

Nelson LRC Bastos – site www.automoveldicas.com.br

Agradecimento