Pergunta
Sr. Nélson,
Primeiramente, parabens pelo site que garanto ser de grande utilidade para muita gente.
Gostaria de tirar uma duvida quanto ao mercado de automoveis zero quilometro atual: até o momento, tivemos desde o começo do ano aproximadamente 12% de aumento nos preços, sendo que até o final de Julho/04 também está previsto novo aumento,porém, a demanda também aumentou, pricipalmente se comparada ao ano passado, e, em certos casos, está até faltando produto (Gol Power 1.6 totalflex e Zafira).
Ora, como pode isto ocorrer, aumento de preços com aumento de demanda?
Vc acredita que os preços praticados atualmente irão recuar como no ano passado quando tivemos a redução do IPI ou este caminho não tem mais volta?
Vc aconselharia a comprar um veículo zero agora antes que aumente mais ou devemos esperar mais??
Obrigado.
William Mendes
Resposta
Caro Willian,
Só existe uma explicação para o cenário do setor automotivo, como também do contexto geral. Percebe-se uma retomada da economia, ou seja, seria a única forma de justificar um aumento de preços, conjugado a um aumento da demanda.
Na Gazeta Mercantil de ontem tinha uma grande reportagem do fabricante Ford que pelo segundo trimestre consecutivo traz lucros para a operação Latino-america. Considerando que o Brasil responde por 70% deste resultado, fica claro que a operação Brasil é responsável por parte deste sucesso. Evidentemente analisar isoladamente o caso Ford não seria correto, pois a montadora vem de uma posição de fundo do poço, mas com uma estratégia de retomada muito forte, ou seja, lançamento de carros de sucesso (ex. novo Fiesta, EcoSport), unidade fabril de Camaçari – BA, melhor relacionamento com os distribuidores, campanhas promocionais de peças, etc, etc. Desde 1995 a Ford operava no vermelho nesta região e um resultado positivo é sempre bem vindo. O sucesso da gestão Antonio Maciel é tão comemorado que de presidente da operação Brasil o mesmo já responde pela operação América do Sul.
A Ford chegou a ter quase 6% do market share local. Neste péssimo momento a Renault uma das recém chegadas quase ultrapassava a montadora americana. Ao final de 2003 a Ford já tinha algo próximo de 11,5%, ou seja, uma retomada de mercado e um sucesso grandioso, considerando ainda que o mercado de automóveis local nos últimos 5 anos tem se mantidos me patamares de 1.5 a 1.6 milhões de unidades (vendas internas).
A Ford justificava em parte o seu resultado positivo dos dois últimos trimestres, em função do repasse de preços junto aos consumidores, ou seja, o mercado permitiu que isto acontecesse.
Falta de produtos:
GM Zafira: Com o lançamento da Zafira Flex Power aquele média mensal de unidades vendidas de 700 veículos pulou para 1,1 mil, 1,2 mil veículos / mês. Supostamente a solução Flex Power sirva para reduzir o valor do km rodado do modelo, mas com certeza nem a fábrica esperava tamanho aumento de demanda pelo modelo. Vale lembrar também que a introdução da solução Flex Power na linha Zafira coincide também com o lançamento da família modelo 2005 e isto acaba representando um diferencial comercial, quando comparado aos veículos concorrentes.
No segmento dos monovolumes, no acumulado de janeiro a junho a Renault Scénic continua na primeira posição com 5.438 unidades emplacadas, seguida pela Citroen Picasso, com 5.289 unidades emplacadas e a Zafira com 4.834 unidades emplacadas. O que justifica em parte o sucesso do modelo Renault é o fato de ser a única montadora a oferecer tal modelo com motor 1.6, representando um valor de entrada no segmento, bem abaixo dos concorrentes.
Tanto é verdade que a GM sinaliza no mercado que o modelo Meriva é que compete com tais veículos, pois a Zafira se posiciona em outro segmento do setor, pois é a única a oferecer a terceira fileira de bancos (sete passageiros). Pretensão da montadora……..Pelos números acima percebemos que a GM conseguiu um melhor posicionamento de mercado neste segmento com o simples lançamento de sua solução flex-power. Na verdade é a única montadora que tem focado parte de seu negócio neste tipo de diferencial, ou seja, quase que todo o seu portifólio de veículo já é comercializado com tal solução.
O Astra Flexpower também é outro modelo que faz sucesso no segmento dos sedans médios em função deste diferencial. Talvez se não fosse tal dispositivo o mesmo estaria bem distante de consagrados sucessos de vendas em nosso mercado neste segmento (Honda Civic e Toyota Corolla).
Gol 1.6 totalflex: o VW Gol continua sendo o carro mais vendido de nosso mercado e tudo indica que ocupará a posição pelo décimo oitavo ano seguido. Também é o carro que mais perde mercado, ou seja, já chegou a vender mais de 260 mil / unidades ao ano e até maio de 2004 o mesmo acumulava um volume de 74 mil unidades. Vale lembrar que no passado éramos apenas 4 montadoras com uns 30 modelos de veículos disponíveis e parte do sucesso do carro VW, vem desta época. Hoje somos mais de 30 montadoras com mais de 300 opções de veículos possíveis. Ainda assim a VW consegue um bom resultado com o modelo mas perdeu a sua posição de número um no mercado (volume de vendas) desde 2001, quando a Fiat vendeu mais veículos que a VW. Em 2002 este resultado se repete e em 2003 a montadora alemã, cai para a terceira posição, ficando atrás da própria GM.
São coisas do passado, ou seja, muito do negócio VW era focado na família VW BW (Gol, Parati e Saveiro) e num mercado mais competitivo, com grandes lançamentos da industria, não dá para viver do sucesso do passado…….
Com o lançamento de novos produtos (família Polo, família Fox, entre outros) a VW espera em no máximo dois anos, retomar a posição de número um no mercado local.
Outra importante observação diz respeito à rentabilidade das operações. Nos dias de hoje os executivos destas empresas estão muito mais preocupados com a rentabilidade, do que o primeiro lugar em volume de vendas, ainda que este título traga importantes estratégias comerciais para o exercício posterior. Há quem diga que a Fiat gastou muito nestes últimos três exercícios (subsídios financeiros) nesta estratégia de se manter na primeira posição de vendas. Se considerarmos que a linha Palio geração III foi lançada ao final de 2003 e a ultima mudança ocorreu em 2000 (alterações estéticas apenas) a Fiat conseguiu algo inédito com um portifólio um pouco desatualizado em relação à concorrência. De lançamento Fiat nos últimos tempos podemos apontar somente a linha Stilo, um grande sucesso de vendas no segmento em que atua (Hatchs médios).
Perceba que o mercado de automóveis é uma caixa de surpresas, mas ainda assim sempre existirão algumas explicações ou apenas suposições para determinados momentos ou situações.
Hoje o mercado está comprador, as três grandes montadoras (GM, Fiat e VW) continuam disputando a primeira posição em volumes de vendas com os seus mega-feirões, campanhas corporativas, financiamentos subsidiados, etc, etc, ou seja, existem compradores potencias para tais veículos.
Diante do cenário até aqui visto, particularmente não acredito em reduções de preços por parte da industria. Acredito sim numa queima de estoque, ou vendas com valores menores dos veículos 2004/2004, com a chegada dos novos modelos 2004/2005. Neste caso se o mesmo não sofreu muitas mudanças e o preço for convidativo, a compra do modelo 2004/2004 pode representar um bom negócio. Se houve mudanças estéticas no veículo e a diferença de preços, não for tão grande, considera a compra do veículo modelo 2005, pois numa futura venda o mercado de usado utiliza o modelo do veículo como referência de idade e o mesmo será cotado sempre como 2005.
Vamos nos falando,
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Atenciosamente,
Nelson LRC Bastos – site www.automoveldicas.com.br
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