Pergunta
Olá Nelson, td bem ?
Em primeiro lugar, parabéns novamente pelo site.
Fiquei sabendo que está de volta à CPM.
Bom, minha pergunta é relacionada aos carros bi-combustível. Infelizmente a oferta destes veículos ainda é limitada.
Atualmente tenho um Astra 2002, 2.0 , o qual gosto muito. Gostaria de saber se você ouviu algo a respeito se as montadoras irão lançar modelos bicombustível no segmento de médios como Astra, Golf, Focus , Stilo e A3.
Obrigado, e um abraço,
Henrique Terada
Resposta
Prezado Henrique,
Inicialmente agradeço os elogios em relação ao projeto do site. Estou de realmente de volta na CPM mas ainda acredito que o meu futuro seja junto a industria automotiva. Pretendo atuar junto a algumas contas relacionadas a este setor, bem como outros Clientes com foco no segmento de seguros. Se você perceber estamos agora também oferecendo apólices de seguros aos nossos Clientes.
Vamos aos seus questionamentos:
Solução Bi-combustível:
No início de 2002 quando a Ford lançou a novo Fiesta a solução foi apresentada para a imprensa especializada como uma alternativa e um diferencial de mercado. Representava uma estratégia da montadora que queria oferecer esta solução, mas queria uma exclusividade da mesma.
Evidentemente o Governo aplaudiu a estratégia da montadora mas jamais poderia conceder tal exclusividade de venda e fabricação.
O projeto foi engavetado, até porque o preço da gasolina no mercado internacional não estava muito alto e o preço do litro do álcool não justificava tal solução.
Em março de 2003 a VW faz 50 anos de mercado local e aquele veículo que por mais de 17 anos foi o produto mais vendido no mercado (VW Gol) está perdendo market share.
Numa estratégia de vendas coincidindo com a comemoração dos 50 anos da montadora no Brasil, onde o presidente Lula esteve presente nas comemorações à montadora lança o Gol Total Flex.
Se retornarmos um pouco mais no passado perceba todas as estratégias que a montadora VW vem realizando para manter as vendas da família VW BX (Gol, Parati e Saveiro). Lançou motores turbo para estes carros, criou uma prova de endurance onde um Gol rodou por vários dias sem apresentar problemas no autódromo de Interlagos, etc, etc. A solução do bi-combustível na família Gol era o que a montadora precisava para avalancar as vendas de um excelente produto, mas meio desatualizado frente aos novos veículos (Peugeot 206, Renault Clio, novo Fiesta, novo Corsa, Citroen C3, etc, etc).
Resultado: depois deste lançamento não teve escolha, todas as outras montadoras tiveram que sair atrás do prejuízo. O cenário é tão verdadeiro que hoje as mais antigas (VW, GM, Fiat e Ford) possuem um diferencial em relação aos chamados new commers, ou seja, aquelas empresas francesas (Peugeot, Renault, Citroen) e as japonesas (Honda e Toyota) não viveram a era álcool e portanto possuem mais dificuldade operacional de disponibilizarem este tipo de solução em seus veículos.
Atualmente 15% dos novos veículos comercializados já saem de fabrica com a solução bi-combustível. Especialistas da industria garantem que em um curto espaço de tempo, todos os modelos serão oferecidos com esta solução. Enquanto algumas montadoras não tem a solução disponível, quem tem passa a ter um diferencial de mercado.
Ainda assim tenho visto que esta disponibilidade represente um fator decisivo na compra. Até porque aquela vantagem não existe quando o preço gasolina / álcool não mantem um diferencial na bomba. Os usuários têm optado por abastecer os seus veículos com a solução gasolina.
Quando a VW lançou a solução total flex um veículo com esta solução custava quase R$ 1.000,00 mais caro. Um concorrente lançou o seu veículo com o mesmo preço e nos dias de hoje percebemos que o mercado não cobra pela diferença de soluções.
Na verdade a industria automotiva ganha em produção e uma vez definido que a solução bi-combustível faz parte de seu portifólio de produtos o melhor seria que todos os veículos saíssem de fabrica com esta solução. A implementação desta em larga escala traria uma redução de custos, dificultando ainda mais a vida dos franceses e japoneses que vendem em menores escalas, possui um portifólio menor de produtos, etc, etc.
Nitidamente a GM é a montadora que mais acredita e foca esforços nesta solução bi-combustível. Com certeza toda a linha da mesma será oferecida com tal solução e até achava que a linha Astra já era oferecida. Já li que a Zafira que representa o topo de linha da produção local também faria parte desta oferta.
A Ford já tinha a solução no inicio de 2002 e até o momento não disponibilizou nenhum veículo. Na verdade a mesma não consegue atender a demanda do novo EcoSport, enquanto que as vendas da nova família Fiesta, vão bem e obrigado. Neste sentido talvez não se justifique, ainda, a disponibilização do bi-combustível nestes carros.
Golf: antes deste com certeza a VW irá atender a família BX (Gol, Saveiro e Parati) e as famílias Pólo e Fox. Talvez num futuro possa fazer parte do portifólio da montadora um Golf Total Flex mas no momento atual com certeza a montadora precisa arranjar uma estratégia para justificar que o Golf geração V não será fabricado e oferecido em nosso mercado. Vamos continuar com o modelo geração IV, atualmente fabricado no Paraná.
Focus: o carro é “made in Argentina” e neste sentido fica mais difícil à implantação do sistema. Não que seja impossível, mas enquanto a solução não for disponibilizada nos carros do segmento de entrada (Fiesta, Ka, etc, etc) a família dos médios fica num segundo plano.
Stilo: a Fiat comemora as vendas do modelo que em 2003 já bateu o Golf, seu maior concorrente. Também acredito que a foco da montadora seja inicialmente nos modelos de entrada (família Uno / Palio) e na seqüência venha a atender esta necessidade, caso o mercado solicite.
Audi A3: esqueça…..Recentemente a montadora deixou de produzir localmente a versão de duas portas. O veículo é considerado um compact premium, ou seja, vende anualmente 9.000 unidades. Só como exemplo em 2003 foram comercializadas mais de 200 mil unidades do Gol o carro mais vendido em nosso mercado. Com este volume de vendas não da para fazer mágicas, ou seja, quem tira uma versão de duas portas de sua oferta de produtos (representava apenas 15% do mix de vendas), jamais conseguirá produzir uma versão bi-combustível e pagar as contas. Para piorar ainda mais a montadora declarou recentemente que a produção local do mesmo está com os dias contados. Em nossa homepage, sessão Audi existem algumas consultorias já publicadas que contam bem este episódio. Fala a pena ler……
Conclusão: será o mercado que definirá a estratégia das montadoras em produzir estes modelos médios com a solução bi-combustível. Particularmente falaria que não credito muito nesta pulverização de tal solução. Entretanto quando vemos uma grande montadora, no caso a GM, focando toda a sua linha para tal solução, é bem provável que a concorrência terá que correr atrás deste prejuízo. As francesas já declararam que até o meio deste ano já irão oferecer seus pequenos modelos com tal solução. Os japoneses atuam mais no segmento dos médios e ainda assim a Toyota não precisa destes artifícios para vender o seu Corolla. Talvez a Honda possa lançar uma versão do Civic com tal solução, buscando uma maior fatia de mercado, mas acredito que não seja este o fator que irá reverter o sucesso de vendas do Corolla, em nosso mercado.
Infelizmente sua pergunta diz respeito à estratégia das montadoras e na maioria das vezes são guardadas a sete chaves. Nossa avaliação é muito mais baseada em fatos e as conclusões podem ou não, estarem corretas.
Uma coisa é certa. Respondemos muitas consultorias sobre modelos de veículos e percebemos que até o momento os potenciais compradores não deixam de comprar suas intenções de compras pelo fato da disponibilidade ou não da solução bio-combustível.
Talvez se não existisse a comemoração VW 50 anos, o lançamento do Gol Total Flex estaríamos todos ainda em compasso de espera, aguardando uma política do Governo em relação aos preços do álcool, política de abastecimento, vantagens, horizontes futuros, etc, etc.
Talvez o que tenha levado as montadoras a pensar nesta solução é que atualmente somos capazes e talvez os mais competentes nesta solução, etc, etc, etc,,,,,,,
Atenciosamente,
Nelson Luis Rodrigues da Cunha Bastos – site www.automoveldicas.com.br
Agradecimento