Por: Tabata Pitol Peres

21/04/08 – 14h17

InfoMoney

SÃO PAULO – Imagine o carro perfeito para você. Ele tem direção hidráulica, vidros elétricos, mas não tem ar-condicionado? Ou ele tem ar-condicionado e rodas de liga-leve, mas você não faz questão de ter uma direção hidráulica? De volta à realidade, dificilmente o carro perfeito para você poderá ser adquirido em uma concessionária.

Isso porque as montadoras não permitem que você coloque em um veículo apenas os acessórios que lhe interessam. Esses equipamentos são vendidos em pacotes, ou seja, para adquirir algo que você quer, provavelmente você terá de comprar – e pagar – por outros itens que não lhe interessam tanto.

Por exemplo, para se colocar rodas de liga leve em um Novo Ford Ka, o cliente precisa ter comprado todos os outros kits da montadora, ou seja, ar-condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos, entre outros. O preço? R$ 6.500. Outro exemplo é que, para se ter o controle interno do retrovisor, é preciso comprar o Kit Somma, que inclui ar-condicionado e aplique preto nas colunas das portas, ou seja, R$ 3.100 a mais que o valor do carro.

Montadoras E não é só a Ford que estabelece que, para ter determinado item, você precisa comprar um pacote de acessórios. Na compra de um Corsa Joy, da GM, para ter um ar-condicionado, é preciso adquirir também um protetor de cárter, uma antena de teto, um limpador e desembaçador do vidro traseiro, preparação para o som e ar quente. O pacote sai por R$ 3.360.

De acordo com o consultor do site Automoveldicas, Nelson da Cunha Bastos, isso acontece por uma razão prática. “Para as montadoras, produção é igual a dinheiro. Se elas produzem em série, os veículos saem mais rápido e os lucros ficam maiores. Imagine se a linha de produção tivesse que produzir carros personalizados. Demoraria muito para um determinado número de automóveis sair da fábrica”, explica.

Bastos, no entanto, admite que às vezes há uma cobrança excessiva. “Vamos supor que a pessoa queira rodas de liga leve. O carro normal vem com rodas de aço, então a fábrica deveria cobrar apenas a diferença entre um modelo e outro. Mas ela cobra um preço tão alto, que é como se a pessoa pagasse a de aço e a de liga leve, mas a companhia não teve gasto com a primeira”.

Cunha ainda alerta: “Só não caia na besteira de comprar o carro sem os itens e mandar instalar fora da concessionária. Você pode até achar um preço bom, mas, se o serviço for mal feito, você perde totalmente a garantia do carro. Algo simples como a instalação de um som já pode ser problemático. Se um dia seu veículo apresentar pane na parte elétrica, mesmo que a causa não seja o som, a concessionária mencionará ele para dizer que o carro foi violado e a garantia não é mais válida. Imagina colocar algo como direção hidráulica ou ar-condicionado, que mexe em uma estrutura maior do veículo”.

Direitos

Apesar de a venda dos pacotes ter uma justificativa, ela é ilegal. De acordo com a assistente de direção do Procon-SP, Valéria Cunha, a obrigatoriedade de adquirir itens que o consumidor não deseja para ter o que deseja chama-se venda casada. “O cliente não pode ser obrigado a pagar por coisas que ele não quer para ter o que quer”, explica.

Ela afirma que essa é uma prática abusiva e que qualquer consumidor que se sentir forçado a levar um pacote, para ter acesso a qualquer equipamento, pode registrar uma queixa no Procon. “Essa é uma situação passiva de fiscalização e de autuação, pois afeta diversas pessoas. Individualmente, se o consumidor vier reclamar em nosso órgão, nós intercedemos a favor dele e tentamos um acordo com a fabricante, para que o cliente não seja lesado”.

Mas fica o alerta: “A reclamação precisa ser feita antes da compra. Porque depois que o consumidor aceitou a compra dos pacotes, não podemos fazer mais nada”, alerta Valéria.