Infomoney (08/02/2011):
Como saber se é a hora certa de trocar de carro?
Trocar de carro é uma decisão tão difícil quanto a compra do primeiro zero quilômetro. Primeiro porque são muitas as dúvidas se é ou não o melhor momento para deixar de lado o carro atual. Segundo porque existem fatores que contribuem para que a decisão não seja tão acertada quanto pensam os proprietários que querem um veículo novo na garagem
A hora ideal de trocar de carro é quando o veículo começa a dar mais despesas e a relação custo-benefício passa a ser desvantajosa para o proprietário. “Se o carro está bom, não há necessidade de trocar”, acredita o responsável pelo site Automóveldicas, Nelson Cunha Bastos. Porém, o cenário atual do mercado automobilístico influencia a troca muitas vezes desnecessária. “As mudanças de gerações, a forte concorrência, o fácil acesso ao crédito, tudo isso estimula”, afirma.
Se a necessidade não dita, na maioria das vezes, a troca, a inovação sai na frente. “Esse é o maior motivo”, avalia o diretor da Agência AutoInforme, Joel Silveira. “O consumidor troca só para ficar atualizado”, afirma. “As pessoas têm essa necessidade de trocar o carro devido ao status”, acredita Bastos. “E as alterações de modelo, o aparecimento de novas versões e gerações ajuda a estimular a troca”, afirma. Para Silveira, a questão da necessidade é secundária. “A novidade é o maior motivo, mesmo entre os carros populares. Essa questão da necessidade é um motivo secundário”, acredita.
Odair Oliveira está decidido a trocar seu Ford Fiesta Sedã. E os motivos aliam a imagem com a necessidade. Como representante de vendas, Oliveira precisa de um bom carro para atender aos seus clientes, ao mesmo tempo em que precisa de um veículo seguro e confortável, pois é nele que passa boa parte do tempo.
“Como eu trabalho com carro, eu preciso de um que tenha conforto, além da questão mecânica. Depois de quatro ou cinco anos, tem de trocar”, afirma. Seu veículo é de 2007 e, embora considere que seja a hora certa de comprar um novo, o que vai decidir a compra é o bolso. “Vi vários modelos, mas na hora da compra quem decide é o bolso”, diz.
De dois em dois anos
A inovação, a segurança e principalmente o conforto são os principais motivos que levam à médica Sônia Bonadia a querer trocar seu Celta 1.0. “Meu carro já tem quatro anos e eu queria um mais seguro e com mais conforto”, afirma.
Como mora em Sorocaba, mas tem grande parte da família alocada na capital paulista, a médica teme ficar parada na estrada quando viaja. “Eu gosto de carro zero, porque não posso ficar na mão”, diz. Para Sônia, a troca do carro está acontecendo tardiamente, pois ela costumava trocar o carro de dois em dois anos, como fazem muitos brasileiros.
Essa frequência, na avaliação de Silveira, é comum, pois, com dois anos, o carro zero já sofreu a sua maior desvalorização. “Para quem está comprando, é um bom negócio, porque, depois de dois anos, o carro desvaloriza pouco”, afirma. Com a ampliação cada vez maior do acesso ao crédito para financiamento de veículo, essa troca bianual ficou ainda mais comum.
Para se ter uma ideia, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), foram vendidos mais de 2,251 milhões de automóveis de passeio em 2010 – um número recorde e um aumento de quase 7% frente aos emplacamentos de 2009. Com os estímulos fiscais concedidos pelo Governo à indústria automobilística em 2009 e com o crescimento acelerado do consumo, trocar ou comprar o primeiro zero quilômetro se transformou em prioridade par muitos brasileiros.
Se, para muitos, a troca de dois em dois anos parece vantajosa, para Bastos, a conta não é tão simples assim. Para o especialista, essa negociação tem um fator complicador para quem quer vender. “A venda do seminovo é muito difícil, porque compete com o novo, porque quem tem para comprar um seminovo pode comprar um novo”, avalia Bastos. Um veículo seminovo, de um a dois anos de uso, na avaliação do especialista, tem de desvalorizar muito para ser vendável. Mais um motivo para postergar a troca.
Além disso, Bastos não enxerga desvantagens a quem vender um carro de seis anos. Para ele, não é um mau negócio. “Enquanto você usa o carro, você está reservando dinheiro para comprar outro”. Ao menos esse comportamento deveria ser o ideal, na sua avaliação.
O especialista recomenda que a troca do veículo ocorra depois que ele completar 60 mil quilômetros rodados. “Porque, a partir daí, a manutenção começa a ficar muito cara. A partir dessa quilometragem, você pode começar a pensar na troca”, avalia. “Mas essa questão também é muito subjetiva, porque carro para os brasileiros é razão e emoção. Tem de haver um equilíbrio entre essas duas coisas”, diz.