Pergunta
Sr. Nelson,
Já pensei em comprar um zero, mas o mercado é muito complicado e estou muito confuso com certos pontos de vista.
Por exemplo, comprar um carro zero básico na hora de vender é mais difícil porque não tem muito atrativo.
Colocar opcionais fica caro e depois na hora de vender apesar de ser mais fácil a venda o valor não compensa o investimento.
Acho que é melhor comprar um usado, pois nesta faixa de valor posso encontrar modelos com vários opcionais.
Não sei bem ao certo qual opção é melhor, se levar em conta que ter um carro novo que ninguém nunca usou será uma experiência nova p/ mim.
Tem também o problema da motorização.
Por exemplo, ouvi de uns amigos que comprar um Pálio 1.8 zero completo -ar será um mico por falta do ar condicionado.
Por outro lado, comprar um 1.0 completo zero na hora de vender o preço não compensa o que foi investido.
Prefiro carros com mais potência do que os 1.0.
Tive antes de meu carro atual um Gol 1.6 Mi e agora sinto muita diferença.
Pensei até em trocar meu carro por um Gol Turbo usado, mas li algumas matérias no seu site que me fizeram mudar de idéia.
Estive pensando em procurar um Polo 1.6, mas tenho receio da VW lançar um Polo totalflex e este modelo atual virar um mico.
Outro carro que me interessaria seria outro Gol 1.6, mas o modelo está para sofrer um face lift e provavelmente este modelo atual (2003) deverá sofrer uma desvalorização maior do que o normal.
Não sei se minhas idéias estão erradas, mas quanto mais tento entender, mais confuso eu fico.
O que eu quero mesmo é tentar evitar comprar um mico.
Será que vcs poderiam me ajudar?
Agradeço desde já,
William Mendes
Resposta
Prezado Willian,
Vejamos alguns pontos,
Existem algumas considerações muito corretas em seu texto:
“carro zero básico na hora de vender é mais difícil porque não tem muito atrativo”:
O mercado de automóveis mudou um pouco e aquilo que era considerado como acessório passou a ser tratado como item de necessidade (segurança e conforto). A direção hidráulica e o ar condicionado passaram a ser importantes acessórios, muito procurados em todos os segmentos de veículos (novo / usados / motor 1.0, motor mais potente), ou seja, seria prudente que o veículo tivesse tais recursos. Ainda assim estamos falando de acessórios bastante caros, ou seja, um ar condicionado, original de fábrica (e deve ser) chega a encarecer até uns R$ 2 mil reais ao preço final de um veículo. As pessoas querem os recursos mas não querem pagar por estes.
“Pálio 1.8 zero completo -ar será um mico por falta do ar condicionado”.
Não há duvidas que um veículo do segmento da família Palio 1.8 já pede um ar condicionado como item obrigatório. A VW chegou a oferecer a linha Golf 1.6 sem tal acessório. Quem comprou se deu mal, pois dificilmente encontrará um futuro comprador para o seu usado ou o mesmo será mais desvalorizado em relação ao preço normal de mercado. Carros na faixa superior aos R$ 25 mil reais, deveriam ser configurados com o ar condicionado. Não podemos nos esquecer que tal acessório também onera este produto em R$ 2 mil reais, ou seja, aquilo que era para custar por exemplo R$ 28 mil, acaba valendo ou custando R$ 30 mil.
O problema parece simples, mas num mercado onde 70% dos veículos 0 km possuem motorização 1.0, este cenário é bem difícil de ser explicado. Nitidamente o que justifica esta opção de compra não é o desempenho do motor 1.0, mas sim o fato destes veículos pertencerem ao segmento de entrada do mercado, ou seja, são os mais baratos e aqueles onde a população tem poder de compra. Considerando ainda que 70% destes veículos são comercializados via financiamento bancário e se fizermos uma conta rápida, aquele R$ 2 mil referente ao ar condicionado, quando financiado, acaba virando R$ 3 mil, ou seja, inviável para qualquer pessoa.
Certa vez em um evento da industria automotiva um executivo de uma montadora referenciou que R$ 500,00 há menos no preço final de um veículo do segmento de entrada (aqueles mais baratos) representa um aumento nas vendas anuais na casa de 30 mil unidades, ou seja, a industria também faz suas contas e monta suas estratégias diante destes cenários. Não adianta configurar os veículos repletos de acessórios, pois não existirá potencial comprador.
“Pensei até em trocar meu carro por um Gol Turbo usado, mas li algumas matérias no seu site que me fizeram mudar de idéia.
Se antes eu já era contrário a este tipo de solução agora sou mais ainda, considerando que a montadora retirou o modelo de sua oferta de veículos. O veículo fora ofertado considerando um motor 1.0 (pagava menos IPI) com uma potencia de carro 1.6 ou 1.8 (deveria pagar mais IPI). Desta maneira a montadora acabava diminuindo os seus custos pois oferecia um veículo numa melhor relação custo / benefício. Quando o Governo alterou a forma de cobrança do IPI e isto sem sendo postergado há tempos os carros 1.0 mais completos e mais caros tiveram seus preços muitos próximos dos veículos 1.6, 1.8 e 2.0. Para piorar ainda mais a VW fez lançamentos, Pólo e agora o novo Fox que acabaram entrando na faixa dos modelos Gol mais caros. Não teve jeito. Os modelos Gol mais caros foram retirados de linhas pois serão atendidos pelos modelos Pólos mais baratos e pelos modelos Fox mais caros. A decisão da montadora está correta, pois ninguém irá comprar um Gol super completo, quando têm a sua disposição um Pólo motor 1.6, compact premium, repleto de acessórios, carro mundial, recém lançamento, com preços na faixa deste Gol completo. Quando a VW lançar o Fox de 4 portas, nitidamente o mercado será atendido por Gol, Fox, Pólo e Golf. Esta deve ser a seqüência da oferta da montadora nos segmentos onde estes estão presentes. Evidentemente o Fox mais repleto deve custa mais caro do que o Pólo básico, assim como o Pólo mais completo deve custar mais caro do que o Golf básico e assim por diante.
“Estive pensando em procurar um Polo 1.6, mas tenho receio da VW lançar um Polo totalflex e este modelo atual virar um mico.”
Vou escrever algo que representa muito uma opinião pessoal e talvez não devesse ser levado em conta ou até irá criar uma situação bastante desagradável ou de certo risco a minha pessoa. Ainda assim vamos lá….
Quando a Ford apresentou o seu modelo novo Fiesta no inicio de 2002 a mesma já tinha a opção de dois combustíveis para o modelo. Eles queriam exclusividade para lançar o modelo (evidentemente isto não existe) mas mais do que isto, eles queriam um compromisso do governo de abastecer o mercado com o combustível (álcool) a níveis satisfatórios de preços. Não adiantava lançar uma solução mais cara no veículo se a diferença de preços entre os combustíveis não fosse compensadoras. Não devemos nos esquecer que o consumo de um veículo a álcool é superior ao mesmo veículo, quando abastecido com gasolina, ou seja, os preços nas bombas devem no mínimo depreciar tal diferença de consumo.
Todas as montadoras tinham esta solução pronta mais ninguém estava disposto a bancar o lançamento.
No início de 2003 quando a VW iria completar 50 anos de presença no Brasil, festa maravilhosa com a presença do presidente Lula na fábrica de São Bernardo do Campo, a montadora resolveu lançar o Gol Total Flex, mostrando um certo pioneirismo e até considerando um forte argumento de vendas para aquele produto que precisa vender em quantidade. Em 2003 a VW ficou em terceiro lugar em volume de vendas, já havia perdido a posição de numero um nos dois últimos exercícios para a Fiat e em 2003 acaba perdendo a segundo posição para a GM. O Gol ainda foi o campeão de vendas da montadora e parte deste volume de vendas foi representado por todas estratégias de se manter o produto em destaque (campeão mundial de endurance, primeiro veículo nacional a utilizar o bio combustível, o campeão de vendas do mercado nos últimos 17 anos, etc, etc).
Não tinha jeito. Uma vez lançado à novidade todas as outras montadoras tiveram que seguir a mesma estratégia. Ainda assim algumas delas não apresentam produtos disponíveis neste setor e realizaram excelentes resultados em 2003. A Ford é um exemplo e com certeza o seu resultado não é melhor, não porque não tem um modelo bio combustível disponível ao mercado. Sua retomada tem sido gradativa com novos carros, novos produtos, segmentos onde não atuava, melhor relacionamento com revendedores, etc, etc.
Mesmo que a VW venha a lançar um Pólo bio combustível a opção de motor gasolina somente não será um mico futuro. Nos dias de hoje, não percebo que a oferta bio combustível seja um diferencial de compra. Com certeza se você tiver a opção de comprar um veículo com tal recurso você o fará, até porque o mesmo tem o preço igualado ao veículo de um só combustível, mas não vejo as pessoas optando por este modelo em função deste recurso.
Ainda assim acredito que se a VW não tivesse disponibilizado tal recurso na linha Gol, todas as montadoras estariam com seus projetos engavetados, esperando uma fase melhor de mercado para o lançamento da solução, maiores volumes de vendas, expectativas de retomada, diminuição da capacidade ociosa de produção e mais do que isto, um compromisso do governo em relação ao futuro do programa do álcool, políticas de preços, etc, etc.
Também representou uma atuação estratégia bastante agressiva de conquista pelo mercado, pois para aquelas recém chegadas (francesas, japonesas) que fabricam veículos em menores escalas fica mais difícil a implementação de tal solução, até porque estas não viveram, a época do carro a álcool, etc, etc, etc,,,,,,
Atenciosamente,
Nelson LRC Bastos – site www.automoveldicas.com.br
Agradecimento